segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O desapontante dia do Diploma

Estou extremamente frustrada.
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Tomei consciência de como as coisas funcionam neste país e não deixa de ser desanimador pensar em ter filhos para que venham a experimentar o mesmo. Os anos a passar e Portugal sem saber aproveitar o que tem.
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O dia do Diploma... isso é coisa que se invente? O ministro Sócrates inventou.
Nesta sua «campanha» para que toda a população possa ter na gaveta um papel a dizer que tem um curso superior, fica por terra seguir uma vocação. A levar a sua adiante, podemos dizer que somos um país homogêneo, em que todos têm um diploma e não há diferenças entre aqueles que o fazem por gosto e os oportunistas «caça-canudos». Ter diplomas ilegítimos na gaveta para quê? Como recurso útil caso queiram seguir a carreira de político?
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Dei sempre o maior apoio a todos que alguma vez me confidenciaram que gostavam de avançar com os seus estudos. Como pessoa que ama aprender e evoluir, fico entusiasmada e logo insentivo a pessoa com muito optimismo. Acredito que seguir um desejo é sempre o caminho certo. E hoje em dia é até mais fácil, para um «dropout» conseguir habilitações sem ter de passar por aquilo que os não desistentes passaram: um processo de 5 anos de formação, só para reunir conhecimentos de «ensino superior», fora os outros 3 do 10º ao 12º ano. São no mínimo 8 anos de investimento. Um adulto que queira proseguir os seus estudos consegue programas mais eficazes e menos longos.
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Mas para quê, se pessoas verdadeiramente vocacionadas e com uma capacidade de entrega para o trabalho extraordinária, ficam fora da área que escolhem? É que não se trata de indivíduos pouco qualificados e desvocacionados, mas de pessoas que seguiram a sua vocação! Ficam de fora nas entrevistas de emprego, não lhes são dadas as oportunidades (ou lhes faltam cunhas) tudo porque algo na sua aparência ou forma de ser - talvez uma certa timidez - coisas que se prendem mais com as aparências do que com as capacidades, os tornam menos atractivos. Como se o que se vê por fora é o que conta! E assim ficam de fora das carreiras para as quais podiam contribuir grandiosamente.
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É isto que me deixa deprimida neste Portugal.
Não existem verdadeiramente oportunidades.
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Dei por mim a reflectir no meu percurso e lembrei que, quando as portas não se abriram, encontrei um outro caminho: tirei (e paguei) um curso de formação de formadores. Sentia-me perfeitamente qualificada para a actividade e mais: com muita vontade de colocar em prática as minhas capacidades educativas. Sempre levei geito para a coisa mas não era bem o meu caminho. O curso foi só uma habilitação necessária para algo que já sabia fazer e para a qual já tinha recebido formação adequada. Finalizado o curso, que é daqueles rápidos e eficazes, como todos deviam ser, tratei do CAD e inscrevi-me na bolsa Nacional de formadores no IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional). Enviei o currículo indicando as áreas de formação nas quais me encontrava capacitada e fiquei muito optimista. Não era «larota». Estava realmente apta e capaz de ser uma excelente formadora.
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Nunca aconteceu. Mais uma vez, um indivíduo excelente para a função, sem oportunidade de lá chegar. Logo me avisaram que a bolsa nacional de formadores era de pouca serventia, porque as entidades não recorriam a ela para obter os formadores. É ISTO, que é preciso mudar no país. Criam-se sistemas alternativos que morrem na praia. É preciso que cumpram a sua finalidade. Chega de acções de fumo para a vista! Há que fazer com que as engrenhagens funcionem. De que adianta qualquer acção se o objectivo final, a entrada no mercado de trabalho, falha?
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Casos há de pessoas que sofrem «golpes de sorte» e acabam sendo bem orientadas e suportadas por um sistema que as conduz no caminho que querem seguir. E assim temos cientístas lá fora que fazem notícia cá dentro, pelos seus sucessos. Mas o que fez Portugal por eles? O mesmo que fez para os que cá estão, são muito bons, e não se ouve falar deles.
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O que me entristece neste Portugal é que pessoas de muita boa índole e capacidades ficam tantas vezes de fora do mercado de trabalho onde até fazem falta, e acabem por ir fazer camas para um hotel ou a servir ás mesas em restaurantes. Não há nada de mal nestas actividades. Simplesmente imagine-se no seu próprio país com um diploma e uma vocação a fazê-las. E depois temos casos de emigrantes que nem português falam mas que aqui chegam e conseguem montar um negócio ou ser bem sucedidos. Também nada tem de mal e tomara que todos o conseguissem. Mas há casos em que, por vezes, se sente que existem em Portugal mais oportunidades de mudança para os de fora ou desistentes dos estudos que para aqueles que são de cá e seguiram, com privações e sem apoios, os estudos até a universidade.
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Considero um diploma uma coisa séria. Não é uma brincadeira. Representa um compromisso, uma vocação que se persegue, com total entrega. E pelo raciocínio do sr. Sócrates, tudo parece tão banal e pouco importante. Ter «toda a população» portuguesa diplomada... ridículo!
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Meus pais só tinham um sonho para mim: queriam ver-me formada. A sorte deles é que nasci com gosto pelos estudos. Embora as qualificações superiores nunca tivessem feito parte dos meus objectivos até ter chegado ao momento e sentir que era o que EU queria fazer. Os meus pais, provenientes da classe pobre e com a 4ª classe, tiveram sempre o sonho errado. É que eles acreditavam que um diploma resolvia tudo. Uma pessoa formada conseguia sempre um bom emprego. E agora têm uma filha desempregada.
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Deixe as pessoas seguir as suas vocações, facultem sim cursos de formação, oportunidades de proseguir os estudos e tudo mais. Mas implementem-no no sistema. Arrangem formas das pessoas conseguirem entrar no mercado de trabalho após formadas. Isso sim, ajuda ao progresso do país! Ter as pessoas certas nos lugares certos e não vê-los reduzidos a pouco se aqui ficarem ou a serem grandes lá fora. Mas não banalizem a aprendizagem ao redutor objectivo de possuir um diploma!

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