terça-feira, 27 de outubro de 2009

Educação à Portuguesa

Hoje dirigi-me a um supermercado, daqueles que fecha 2 horas horas para almoço. Cheguei lá mesmo à hora de abertura: aliás, 1 minuto depois das 15h30. Já pessoas aguardavam para entrar. Uma delas, senhora na terceira idade, bem cuidada e com carrinho de rodas pronto a aviar, disse estar ali à espera há 30 minutos e bate com impaciência na porta, pois vê as empregadas a conversar na caixa. Estas não têm reação. Como é típicamente nacional, o empregado português faz de conta que não percebe e guarda logo uma vingançazinha. Mais um minuto passa e uma das raparigas de bata vermelha dirige-se para a porta. Agora percebam o comportamento dela:

- Arrasta os pés. É propositadamente lenta, como se aquilo fosse uma marcha onde não deseja chegar à meta. Nas mãos à cintura, tras as chaves, com as quais brinca, mexendo numa de um lado para o outro entre os dedos, enquanto, vagarosamente, teima em chegar perto da porta.

Eu, que não tinha pressa nenhuma e nem estava impaciente, perdi a paciência logo ali. Está certo, já estava aborrecida com outra questão mas por isso mesmo é que não tinha a tolerância habitual para mesquinhices. Esta empregada, típicamente portuguesa, não podia deixar passar a oportunidade de gozar com a cara das pessoas, tendo aquela atitude típica e previsível. Por o ter previsto é que me desapontei. Saí dali em direcção a outro lugar. Hoje não estava com paciência para este tipo de provocações mesquinhas.


Porquê que em Portugal a pontualidade para abrir um estabelecimento é uma questão de 1 ou 5 minutos depois da hora e para fechar, é uns minutos antes? Até aceitaria sem problemas esta característica portuguesa, não fosse as ocasiões em que é seguida destas outras mesquinhas.


Já trabalhei em Inglaterra e, neste aspecto, as pessoas são muito mais sérias e sabem que este tipo de atitude mesquinha não passa de mau profissionalismo. Nunca que uma empregada lá, ia abrir a porta minutos depois da hora programada, a arrastar os pés e a alongar os segundos... muito feio!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Outras cores


Não há dúvida que a vida tem outras cores que não as que conhecemos.

Ontem vi um arco-íris e fiquei a contar as suas 7 cores... embora só distinguisse 6!


Mas entre cada arco com a sua cor, existem outras... e quando chegamos perto de outro espectro, a experiência toca-nos sempre. Mais ainda se, no nosso íntimo, soubermos que pertencemos mais aquele que visitamos, do que aquele onde vivemos...


Ser exposta a outros estilos de vida, melhores, faz-me sentir uma enorme vontade de chorar. Não que os inveje, longe disso. Até me afasto, talvez por saber que ali seria mais eu... É a dor de uma perda...!


Gosto da gastronomia pensada, científica, onde a combinação dos ingredientes é um chamariz para os sentidos e o desafio se faz com arte. Fui visitar, por casualidade das circunstâncias, um lugar assim e tive direito a um toor. Vi e cheirei aromas de comida bem confeccionada. Calei a minha fome, coisa que tenho passado uma semana a conseguir, com surpresa, fazer muito bem. Passadas 2 horas, já a noite vai alta e estou sozinha, fui tratar de me alimentar, pois o estômago só tinha visto comida eram 13h00... uma banana. Foi o que me restou. Não que não tenha dinheiro na carteira para um desvario... mas seria isso mesmo. Um desvario que me alimentaria hoje, mas me deixaria sem o que comer amanhã.


No entanto pergunto: vale a pena isto? Acho mesmo que não. Se não se viver a vida quando ela pede para ser vivida, se a contenção for uma atitude sempre presente em todas as acções, não se vive nada... e é a experiência que fala, não a sabedoria. Se fosse sábia, já me tinha deixado de privações. Como depois iria me virar, não sei. Mas cá está: se calhar, essa circunstância ia dar-me a tarimba necessária para aprender a dar a volta por cima bem depressa.


Fiz as contas ao dinheiro e percebi que ganho abaixo das novas despesas fixas. Ou seja: no final do mês, o que ganho não sobra para comer. Isto assustou-me em demasia. Qualquer coisa me parece um luxo. Um colega brincou sobre pagar-lhe um café e esses 0.50 cêntimos pareceram uma fortuna. Mas ninguém sabe disto. Guardo para mim, enquanto todos pensam que estou bem...


Talvez seja tarde para mim, embora acredite que nunca é tarde para mudar o que quer que seja. Mas uma coisa já perdi: a infância e a flor da juventude. Agora... vou deixar que o restante passe todinho para depois ver que ficou tudo por viver, em prol de uma "contenção" permanente?


Ai! O arco-íris!