terça-feira, 11 de maio de 2010

Carta de índio a Homem Branco actualmente


Até ler a “Carta do índio Seattle ao Homem Branco” (http://www.culturabrasil.org/seattle1.htm) datada de 1855, sentia-me uma incompreendida entre iguais. Isto porque me incomoda viver na cidade e respirar ar saturado, por exemplo. Entre outras coisas que sinto que me tiram a saúde e incomodam-me, está o facto do dia começar com agressões aos pulmões e, sempre que procuro “refúgio” na brisa que traz um leve aroma a flores, a poluição sobrepõe-se e domina. Rouba-me o prazer que ia começar a sentir. Posso usar o dia de hoje como exemplo. Todos os dias de trabalho começam da mesma forma: com uma subida até a paragem do autocarro. Sim, porque com toda a tecnologia e progresso da sociedade, ao invés de ter o transporte na paragem perto de casa, tenho-o noutra paragem mais distante, a uns três ou quatro minutos de subida. Consigo avistar a chegada do autocarro ao longe pelo que, tantas e tantas vezes, é preciso correr muito para o conseguir alcançar. Neste breve mas esforçado percurso, raramente o consigo fazer sem sentir os pulmões a ser inundados de fumos indesejáveis. A começar pela poluição automóvel, que até nem é a maior agressora, para quem já se “acostumou” um pouco e não caminha rente à estrada. Esta está sempre presente e é o ar que respiramos, não temos como contorná-la. Mas incomoda-me muito, por exemplo, que tenha todos os dias de passar por um grupo de homens que, parados na rua, têm a carrinha a funcionar durante largos minutos e ficam de fora a fumar cigarros. Por mais afastada que tente passar e por mais que evite até respirar aquando passo, o vento sempre conduz o fumo dos cigarros aos meus pulmões e a primeira sensação desagradável do dia começa de imediato. A agressão persiste com o ruidoso motor da carrinha, sempre a roncar. Não entendo porque as pessoas só não ligam os veículos quando realmente vão arrancar neles. Escutar um camião, uma carrinha, seja o que for, com o motor a “roncar” por mais de meia-hora (como era frequente na zona habitacional) é terrível. Mesmo fechada em casa, o ruído tem o poder de ser... ruídoso, logo, incomodativo, até para os que pensam não se incomodar, resguardados que estão pelas paredes de betão.

Hoje corri para apanhar o autocarro, ao avistá-lo ainda longe. O que me leva um minuto e meio a caminhar, demora 5 segundos para a viatura percorrer, pelo que correr muito e a subir, é cansantivo. Quase fiquei sem ar mas consegui ser a última a entrar no autocarro. Porém, a satisfação foi sol de pouca dura porque fui logo novamente agredida pelo distinto odor de vómito mal limpo. E eu a ofegar por ar, a ter de respirar aquele! Uma tortura e ainda não tinha saído de casa fazia 5 minutos...


Ao ler a carta do índio ao homem branco percebi que é natural ter estas sensações. É sinal que sou uma pessoa sã, que gosta da natureza, de escutar o canto dos pássaros, de cheirar as flores e despreza um tanto a poluição e as suas consequências. Não sou eu que estou errada. São os outros :-). Porque eu, como selvagem, não passo de uma “pele vermelha” que gosta de respeitar a natureza e preservá-la. Com toda a razão que o índio tem, falhou apenas numa coisa: nem todos os brancos são iguais... aos brancos. Há brancos, pálidos como eu, que são mais “vermelhos”... ou verdes, já que esta é a cor da ecologia. Como em tudo, existem homens bons e homens maus. Mas, como sempre, quem fica em vias de extinção são as “peles vermelhas”...

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