terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Investigar a verdade na tragédia na praia do MECO

Há uma coisa que me entristece BASTANTE em toda a história de averiguação da verdade que ronda os afogamentos na praia do Meco. É o facto de muito indicar que o tempo vai passar e não vai esclarecer todas as dúvidas.

Confio na justiça, nos homens e mulheres que averiguam os factos em busca da verdade. Não confio é nos outros: nos advogados e em todos os principais envolvidos. Esses não têm o costume de se preocuparem com a verdade. Cada qual tende a puxar a brasa à sua sardinha. Vão soltar boatos e executar muitas manobras de distracção. E com isto desonra-se o sistema judicial e a busca da compreensão e da verdade. 

Para não falar que as pessoas que morreram merecem uma investigação transparente e ser honradas com a verdade. E quem pode falar deve-lhes a eles e a si próprios o mesmo. 


sábado, 25 de janeiro de 2014

Termos de responsabilidade

A propósito da reportagem de investigação da TVI em que dão conta que as vítimas de afogamento na praia do Meco, os estudantes, haviam assinado um TERMO DE RESPONSABILIDADE onde tomam para si a responsabilidade de quaisquer danos à sua pessoa. 

Ainda ontem assinei um documento que dava totais "poderes" à entidade para investigar cada informação por mim facultada. E não colocam um PRAZO de validade ou "para efeitos de...". Tanto quanto sei, aquele documento permite-lhes averiguar o meu historial até daqui a 10 anos, se lhes apetecer. 

Lembro de o ter assinado sentindo um tanto de incómodo com aquela imposição. Mas nao tinha escolha. Ou assinava ou não me validavam a candidatura. 

Sou muito "avessa" em transmitir dados pessoais. Quem me garante que os vão tratar com respeito e privacidade? Ter de facultar a NIF a desconhecidos é algo que não me faz sentir à vontade. Não é coincidência o facto da quantidade de emails com promoções de serviços, telefonemas e publicidades surjam em maior quantidade quando preenchemos fichas de candidaturas ou de concursos. Onde fica a CONFIDENCIALIDADE? 

Simplesmente não me sinto confortável. Podem me perguntar o nome, a idade, mas quando querem saber tudo ao pormenor é aí que sinto alguma relutância. Mas faculto. Que remédio tenho eu? E quando nos pedem para assinar um termo de responsabilidade como aquele, quantos de nós não assina?


A verdade é que se um tipo me der um tiro e eu tiver assinado aquele estúpido documento, a responsabilidade é minha! É como quando vamos viajar e pedem-nos para assinar um termo de responsabilidade contra «quaisquer danos». Mas por acaso se alguém me fizer um dano sem ser eu responsável pelo mesmo, tenho de ficar como se fosse por causa do papel? Uma coisa é eu tropeçar e cair, outra é me darem um encontrão, percebem? Tropeçar num buraco inconveniente no passeio público e partir a clavícula não é o mesmo que tropeçar por casualidade. A César o que é de César!

Discordo deste género de papéis. As pessoas que os criam devem colocar um prazo e em que condições é que essa invasão de privacidade ou esse descartar de responsabilidades é válida. Ou seja: aqueles estudantes que assinaram em 2012 aquele termo de responsabilidade, durante todo o seu tempo como universitários, o que costuma durar de 3 a 5 anos, se lhes acontecesse alguma coisa, por terem assinado aquele papel, ninguém mais tem qualquer responsabilidade por algum mal que lhes aconteça. Nem a faculdade, nem um colega, nada. 



Funcionamos por ideias pre concebidas

Estava aqui a reflectir na vida. Nisto de nós na sociedade, a sociedade e «nós».
Concluí que todos funcionamos de um modo quase primário. Por mais que evoluamos, se estude e se aprenda sobre a vida, o corpo humano, o planeta e as pessoas, tudo parece afunilar para comportamentos com alicerces em pre-conceitos.

Já repararam que a maioria só sabe funcionar "catalogando" pessoas? Cada qual faz uma ideia de quem o outro é e o «arruma» naquela gavetinha sua... Precisam de gavetas. Não lhes importa se fica bem etiquetado. Já está na gaveta, pronto. Está lá e é lá que pertence.

O que me decepciona é a rapidez com que cada vez mais as pessoas se apressam a "catalogar" as outras. Por vezes é quase instantâneo, imediato. Fazem isso e ficam numa posição defensiva e irredutível. Algumas pessoas, por mais que surjam novos dados que atirem por terra o pré-catálogo, jamais cedem. Ou a água vem ter ao seu moinho ou nada feito! Depois afirmam frases feitas que são um perfeito disparate: "Eu não fui com a cara dele/a assim que a vi!" - como se isso quisesse dizer alguma coisa, a não ser que quem profere uma frase destas é ávido por julgar os outros.

Que lugar ocupa a compaixão? O dar tempo às pessoas para se darem a conhecer? O ser humano é uma criatura complexa e simples ao mesmo tempo. Mas agora existe tanta "maquilhagem" social em cima de um indivíduo, que fica difícil perceber quem ele é por debaixo de todo esse pó. Uns usam bastante pó, jamais revelando quem realmente são, outros praticamente dispensam. Alguns já estão socialmente tão bem «formatados» que se apresentam para cada situação com a máscara que julgam a necessária. Quase nunca s tiram. E como o receptor também tem as suas ideias pré-concebidas do que pretende daquela pessoa, se a "máscara" agradar, a pessoa agrada também. E assim assentamos a nossa sociedade. Em relações e amizades de interesse. Os alicerces assentam no pó da maquilhagem, nas máscaras, e não nos indivíduos em si. Depois um dia tudo pode se revelar, rachar...

São raras as pessoas que olham para as outras com uma pré-disposição para as conhecer. Parece que a maioria pretende CATALOGAR no primeiro relance a pessoa e quaisquer próximos contactos servem apenas para confirmar o pré-catálogo. Não que por vezes não digam "estava totalmente errado"! Mas o funcionamento social parece ser este, o de rapidamente colocar as pessoas em gavetas, tudo arrumadinho, preto no branco, como se não existissem mais coloridos na vida.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Crise Mundial de saude- as superbactérias


É uma grande ameaça que paira sobre toda a população Mundial.
Preocupamo-nos tanto com misséis e radiotividade - e devemos mesmo nos preocupar, mas o veneno mais letal sempre foi aquele que é ingerido todos os dias, pouco a pouco, juntamente com as nossas rotinas e os nossos hábitos alimentares e sociais.

Não faço parte do grupo de pessoas que se auto-medica nem por tudo e por nada corre até um comprimido. Então a primeira vez que ouvi falar em "resistência a antibióticos" fiquei menos preocupada comigo mesma, pois se não os tomo se um dia precisasse tomar não encontraria o antibiótico qualquer resistência em mim.

Mas enganei-me. Porque o que se passa é que todas as outras pessoas pelo globo terrestre que criaram resistência a antibióticos e medicamentos criaram elas mesas novas estirpes de bactérias. E "soltam-nas" para o mundo. Se uma dessas entrar em mim ou em qualquer outro inocente com hábitos similares, não vai existir medicamento que me ajude. 


Entendem a grande ameaça?
A cura produz novas bactérias - super bactérias, aquelas que "brincam" com o sistema imunitário como se fosse o filme "Apanha-me se puderes". E os cientistas ainda não descobriram formas de as combater. Em alguns poucos casos, acabam por ter sucesso atacando-as com uma mistura de drogas muito pesadas, cuja aplicação por si vai certamente provocar outro tipo de doenças, como artérioesclerose, psicose, etc. Ou seja: podem curar o mal maior por um tempo e à custa de FORTUNAS em dinheiro (pormenor importante). Cura temporariamente aquele que em breve podia ser fatal. Mas não te deixa saudável. Jamais se recupera a saúde. Isso vai passar a ser uma lembrança remota. Em troca fica um legado de doenças adjacentes e uma dependência eterna a medicamentos super dispendiosos. 



domingo, 19 de janeiro de 2014

Dúvida e pedido de esclarecimento sobre a comercialização do calçado

Se os sapatos com fabrico português são tão apreciados pelo mundo a fora pela qualidade, beleza e conforto (ao ponto de serem o segundo mais caro do mundo*) porque é que aqui em Portugal a maioria das casas vendem sapatos feitos NA CHINA???



*fonte: Programa Imagens de Marca (Janeiro 2014)



sábado, 18 de janeiro de 2014

Educação nas escolas

Gostava do tempo em que andava na escola e tinha ginástica. Ia-se para o ginásio, fazer exercício. Era rotina, fazia parte da aprendizagem como qualquer outra disciplina do curriculo escolar. Muitas vezes as pessoas não sabem apreciar o que têm e fazem queixas e perdem tempo em lamentos quando deviam usufruir e calar. Às tantas muitas que no passado faziam corpo mole, inventando desculpas para se esquivarem ao esforço físico, hoje pagam balúrdios em ginásios para se manterem em forma nas máquinas.


Já a máquinas não acho nenhuma piada. Eu gosto de exercício mas diferente. Gosto daquele que praticava na escola. Ginástica de verdade ou diferentes desportos. Infelizmente ginástica na escola pública foi coisa com dias contados (Ah grande 25 de Abril, que logo nos trouxeste tanto mas depressa o capitalismo levou embora...) Imaginem o que era andar na escola de graça, ter aulas de ginástica de graça... isto é uma bênção. Que muitos colegas diziam odiar, os parvos. Não eram capazes de imaginar o que é não ter sequer direito à instrução e ao livre pensamento. Mas adiante:


Quando andava na escola, isto entre os meus 11 a 15 anos, a actividade desportiva iniciava-se com exercícios de aquecimento e, basicamente, uma corrida. Fazia-se um qualquer desporto com bola - quase sempre basquet, outras menos volei e menos ainda futebol. Mas o que eu sinto mais saudades é da ginástica pura e simples. Sinto saudades de saltar o "cavalo". Recordo com um sorriso os saltos em altura com pirueta, em que se tinha de ir a correr, pisar numa prancha e no ar dar uma cambalhota e cair no colchão. De preferência de pé, claro. O que isto amedrontava alguns! Agradeço ter aprendido o pino e quase ter conseguido saber fazer a espargata. Gostava de saltar à corda - algo tão simples e contudo faz um bem danado. E fazer a roda? Eu ficava ali a fazê-las seguidas, de uma ponta à outra do pavilhão desportivo, numa de ver quem se cansava primeiro e parava. E depois tinham aquelas brincadeiras de menina, como o jogo de elástico, da macaca, dos países, da apanha, do mata ou o saltar à corda aos pares - tudo exercício de destreza com um grau de complexidade que se desejava mais elevado a cada etapa ultrapassada, até se conseguir completar todas sem falhar. 

Hoje são memórias do que um dia aconteceu. Não são coisas que consiga reproduzir, nem tão pouco recordo de como fazer metade delas. Sim, saltei muito à corda e claro que o sei fazer. Mas com corda dupla, será que ainda me lembro? Será que era capaz de elevar aquela pernoca lá para as alturas e aos pulinhos fazer o jogo do elástico?

Que pena!!! Espero que alguém com excelente memória ou arquivo visual destes jogos tenha registado como estes se jogavam. Não sei se hoje em dia alguém ainda se lembra dos vários níveis do jogo do elástico. Eu já nem recordo de metade do nome da brincadeiras! Existia uma em que desenhava-se no chão, a giz, e depois ia-se atirando uma pedrinha e conforme a quadrícula onde esta caía, tinha-se de pular numa certa ordem. Se fosse simples não seria difícil de terminar e lembro que podia ser, pelo que era mesmo interessante existir um compêndio destas brincadeiras que divertiam os da minha geração.


Infelizmente com as escolas públicas a cessar a actividade física por falta de "fundos" e necessidade de cortar nas despesas, depressa a ginástica deixou de fazer parte da rotina semanal. Nos filmes americanos não se passa assim. Eles têm artes plásticas, pintura, música, desportos diversos - incluindo natação e, a minha favorita e sonhada arte dramática. Sempre achei que fazia uma falta descomunal no plano de ensino básico. Nós tugas, tinhamos música até aos 12 anos e ainda assim já em risco de acabar. Tinhamos desenho ou algo do género e a ginástica. Mais NADA. Muito diferente da diversidade e seriedade das disciplinas mais práticas ou artísticas que se viam nos filmes americanos. E ao invés de alguns gostarem ainda reclamavam:

-"Ah, não me apetece nada ter aulas de música/ginástica/desenho... que seca! Para quê quero eu aprender a tocar/fazer cambalhotas/desenhar? Não quero ser músico/ginasta/desenhista!" - coisas parvas assim. 

Subitamente estava aqui e recordei um momento, anos mais tarde, em que entrei num pavilhão de ginástica vazio, com algum material no interior e me veio uma vontade de aproveitar! Mas tinham-se passados anos. ANOS sem uma única actividade física, sem exercício físico, sem praticamente nada a não ser andar muito a pé e ocasionalmente correr. Eu e outros ali numa de diversão, a tentar recordar tempos passados na escola. Começamos por fazer a roda. Saiu uma coisa meio torta e desengonçada mas sim, ainda era possível ao corpo fazer aquele movimento. Só que era pouco gracioso! O pino também se fazia mas mais uma vez, como numa dominei bem o equilíbrio aquilo durou pouco... O que achei piada foi ver o cavalo de madeira à frente e achar que conseguia pulá-lo. Se não conseguisse também não seria nenhuma catástrofe. Fazia mais de 12 anos que não via um há frente. Então corro, pulo e consigo passar o cavalo! Hoje acho que ia sentir que não teria essa genica. Engraçado também foi perceber que de todos ali até era eu que conseguia fazer mais coisas. Mesmo tendo parado à mais tempo e pelo que percebi, também fui a que andou em escolas em que o exercício físico foi "removido" do horário escolar mais cedo. Porém parece que aprendi "melhor", porque executava sem medo e com mais rigor. Afinal, a aprendizagem é feita de repetição e a repetição traz o melhoramento. Ninguém nasce ensinado. 

No ensino básico todas estas actividades criativas, artísticas e desportivas deviam estar disponíveis para todas as crianças. De forma a que todo o pontencial possa ser estudado, exercido e praticado, para que se possa sentir se existe alguma afinidade ou não com as actividades.   

Ah, e falta mencionar a EDUCAÇÃO SEXUAL - já no meu tempo de banco de escola debatida «se» devia existir ou «se» não devia existir. Nos filmes americanos existe. Ao ponto de chegar ao extremo de um dos exercícios juntar os colegas como se fossem casais e facultar-lhe um boneco que chora e precisa que lhe mudem a fralda... durante um mês! Por cá não se sai do falso debate - pois o tema está mais do que enfiado numa gaveta cheia de teias de aranha. Pessoalmente não vejo qualquer não benefício na educação e no esclarecimento. Ninguém nasce ensinado, não é mesmo? Não é por se falar do assunto que os adolescentes vão a correr praticar para ver como é. Acho que começam cedo demais a praticar e pelos motivos errados... Pelo que às tantas convém mesmo falar abertamente do assunto.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A Fruteira das Laranjas

Por vezes vem à memória a fruteira com laranjas da casa de meus avós, no dia em que um deles faleceu. Olhar para aquelas laranjas frescas, obtidas com a certeza absoluta de que seriam consumidas nos dias seguintes e vê-las ali, junto com outras peças de fruta, condenadas a apodrecer.  


domingo, 5 de janeiro de 2014

A Viagem Secreta

Um dia que tive livre apanhei um comboio e fui até uma região de Portugal que há muito queria conhecer. Fui sem dizer nada a ninguém, regressei sem contar onde tinha ido. Foi uma viagem só para mim. Não sei quantas horas para ir, outras tantas para regressar. Mas nesse dia fui longe, «saí», saí totalmente da minha rotina.

Passeei pela cidade, vi o mesmo que vejo em todas as outras. Até pobreza e miséria eu vi, ao avistar ciganos a viver nos degraus de uma capela assinalada como marco turístico. Notei que andava mais apressadamente que as restantes pessoas, mais vagarosas no andar. Trazia comigo a pressa do lugar onde vivo. E ali ela me denunciava. Entrei numa igreja- igual a todas as outras com os mesmos mirones que te olham de esguio, saí da igreja. Passeei pelas ruas, encontrei uma curiosa loja de chapéus (ainda existem lojas que vendem chapéus?) e um antiquário, repleto de lembranças de outros tempos que também de certa forma foram os meus. Fui parar a uma parte mais isolada, pisei a terra, procurando saber se tinha sido por ali que tinha vivido alguns dos meus, com a sua rotina de vida na quinta e animais. Nada senti. 

Fui até as "ruínas" turísticas - uma capela abandonada à tanto tempo que bem que podia ruir. Edifícios assinalados como marcos turísticos mas que estão ao abandono. Aí não me estranharam, era "turista" como os outros. Continuei a caminhar, encontrei um edifício bonito com uns painéis de azulejo que me despertaram curiosidade. Aproximei-me cautelosamente, para observar. A porta abre-se. Uma senhora pergunta-me o que desejo da sua casa. Fico surpreendida. Peço-lhe desculpa pois desconhecia que se tratava de propriedade privada e como avistei os azulejos e o portão estava aberto, aproximara-me para espreitar e ver se existia alguma placa de identificação. A senhora já de alguma idade, convidou-me a entrar. Fiquei encabulada mas incapaz de recusar a simpatia, aceitei. Ela me conduziu pelas divisões da casa que entendeu adequadas, falando-me com orgulho do seu pai, dos seus feitos e da sua família. Mostrou-me retratos dos seus familiares, contou um pouco da sua história. Fiquei atrapalhada com o inusitado. Estava no lar de outra pessoa, descobrindo coisas sobre a sua família - quando tinha ido ali tentar encontrar algo sobre a minha. Então perguntei à antiga senhora que raramente saia da sua casa e tinha contacto com alguém fora do seu círculo de conhecidos mas que havia vivido todos os tempos de todas as mudanças, se conhecia um lugar com um certo nome. Disse-me que não. Viveu ali toda a vida e conhecia muita gente na região, pois a sua família era abastada, culta e benemérita. Mas nunca ouviu falar do nome que lhe dei. Achei nesse instante que me ocultava algo, mas não me ralei. A súbita familiaridade e a inesperada afabilidade que só outra geração é capaz de demonstrar fez-me sentir agraciada mas também atrapalhada, pelo que depressa lhe agradeci a amabilidade e regressei à estação de comboios. A pesar de tudo, apesar de admirar e sentir afinidade por pessoas de gerações mais velhas que a minha e de estar diante de uma senhora simpática e bem educada, a minha geração cresceu consciente dos perigos nas mais pequenas coisas. Como o perigo que é estar na casa de desconhecidos, em cidades desconhecidas, sem conhecimento de ninguém. O simples facto ia contra os mais básicos valores que me foram incutidos sobre segurança pessoal, desde a infância. Pisei cada divisão grata por ter sido convidada mas procurando não me colocar em esquinas fechadas, de onde não pudesse escapar se subitamente existisse essa necessidade. Pode parecer estranho mas é algo no subconsciente que acaba por influenciar o comportamento. No final agradeci a gentileza de ter aberto a porta da sua casa a uma desconhecida e fui embora, acenando adeus a ela e aos tantos gatos que passeavam na propriedade.

A pesar de toda a situação ser inusitada, simpatizei muito com aquela senhora e preocupei-me com a sua hipotética solidão. Até pensei em lhe enviar um cartão de agradecimento mas ao mesmo tempo tal gesto podia parecer invasivo, pelo que o descartei. Ao chegar à estação de comboios, já se encontrava ali uma carruagem parada. Estava no horario de partir e quis confirmar o destino. Dirigi-me novamente à bilheteria, ofegante porque corri para não perder a hora. Perguntei se aquele era o comboio que me levava onde queria regressar e o senhor que me reconheceu da chegada, perguntou se gostei do passeio e se vi alguma coisa. Respondi que sim e ele voltou a repetir que aquilo era uma terra que não interessava a ninguém e que se pudesse ia embora dali. Também me impressionou bastante a postura do bilheteiro, muito insistente em dizer para ir embora dali. À chegada quando precisei lhe perguntar dos horários de partida, ele insistiu muito para que fosse embora dali e fosse antes até uma aldeia de xisto mais adiante, um local segundo ele, bem mais interessante do ponto de vista turístico. "Aqui não existe nada para ver. Isto é uma terra morta de gente que não interessa" - responde ele.

Se calhar devia ter colocado as minhas questões ao bilheteiro. Sendo de uma geração próxima da minha mas já que tão taxativo sobre aquela terra, se calhar era ele a pessoa que me podia ter dito algo sobre a razão que me conduziu até meio involuntariamente até àquela terra que "não interessa para nada". Afinal, se os meus sentiram necessidade de sair dali e fazer vida noutro lugar, provavelmente o bilheteiro teria também as suas razões.