terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quando se reconhece um rosto entre a multidão


Há uns anos fui regularmente abordada por pessoas que me vinham contar que estavam a ver televisão quando subitamente me recoheceram numa peça do telejornal. E ficaram tão agradadas que espalharam esse facto sem importância como se importância tivesse.

Não tinha sido a primeira vez que apareci na televisão. Já tinha aparecido antes, entre vários rostos de um público que assistia a um debate. Nesta segunda ocasião, tinha aparecido «várias vezes» (em alguns planos) enquanto caminhava rumo à direcção que a multidão toda tomava. O foco de qualquer uma destas notícias estava longe de ser a minha pessoa. Simplesmente estava lá, assim como tantos outros. 

Até sou de fugir de câmaras mas em circunstâncias normais, se existem câmaras a filmar num espaço onde tu estás, é provável que te possam filmar. Assim como se filmam as multidões quando abandonam um estádio de futebol após um jogo ou os fãs que abandonam um conserto. O que tem de mais? 

Hoje recordo estes episódios por me terem vindo contar que uma pessoa que conheço fez capa de jornal. E eu fiquei aqui a matutar porque é que ainda se dá tanta importância a uma coisa destas. Antes não existia internet, facebook, nem aplicações que simulam capas de jornais, outdoors publicitários, youtube... Enfim, toda a parnafenalha moderna de que dispomos hoje para nos autopublicitar. Nos dias de hoje em que vivemos inundados com imagens de gente comum na praia, a fotografar os pés, as manicures, a partilhar o que almoçam, o que jantam, a mostrar cada foto de infância anteriormente guardada, a expor os filhos e cada passo que dão nas suas vidas, o que tem ainda de especial, de mágico, ser um rosto que aparece entre muitos outros numa folha de jornal? 


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