quinta-feira, 31 de março de 2016

Coisas que não entendo (UM)

Quem, ao entrar ou ao sair de casa, abre e fecha a porta sucessivamente, em estrondos em pares de dois ou três. Sinto-me a anormal, pois oiço os vizinhos fazerem isto em todas as ocasiões. O que faz uma pessoa/família agir assim? Não entendo essas entradas/saídas às prestações. Não é como se fosse a porta do mictório!

Educação nos pés


Hoje o meu despertador foi o salto alto da vizinha. Toc-toc-toc, para lá, toc-toc-toc para cá, durante cinco minutos, dez, vinte, meia-hora...  Despertei algo mal humorada.

Agora volto a escutar o mesmo toc-toc-toc. Toc-toc-toc, para lá, toc-toc-toc para cá, um ruído que dura faz uma hora e meia é ocasionalmente acompanhado do arrastar de móveis. Os toc-toc-toc que têm o mesmo som de martelos, desconcentram-me de tal forma que preciso de sucessivas tentativas para terminar de elaborar o raciocínio de uma frase. 

Gostava de poder negar isto, mas não posso. Ao longo do tempo os meus nervos ficaram afetados. Não sou mais a mesma pessoa, que se mantinha tranquila e conseguia ignorar. Aos poucos os abusos dos vizinhos têm tomado parte dos meus males.

A forma como fui educada enquanto estava a crescer vem sempre à mente. Não fazer ruído foi sem dúvida um ensinamento que me passaram. Em especial à noite ou então bem cedo de manhã. Excepções feitas para ocasiões especiais, em horários normais. Afinal, todos conseguem entender barulho de uma festa de aniversário, palmas, parabéns... Mas não é desses ruídos saudáveis e normais que falo.

Não entendo como alguém pode gostar de ter nos pés dois palitos de pau. Assim que entro em casa o que faço é descalçar-me. E venham os chinelos de borracha! Sapatilhas, ténis... o que for. Silencio e conforto. Ainda que não me incomodem, se fizerem  barulho contra o soalho, o instinto é tirar. Quando tenho miúdos em casa, eles podem brincar e fazer o que quiserem, mas tomando atenção ao ruído. É-lhes explicado para não gritar para não incomodar, ou porque já é tarde ou simplesmente, porque estão a fazer barulho. Sei que não é fácil com crianças mas os ensinamentos estão lá. E sabe bem quando uma vira-se para nós e ao nos ouvir falar um pouco mais alto, diz: "Shiu. Fala baixo estás a fazer barulho".

É sinal de que aprendeu :)


domingo, 27 de março de 2016

sábado, 26 de março de 2016

Uma tradição oculta







 


 A prova de que a Páscoa, por cá, não costumava ter coelhos...

sexta-feira, 25 de março de 2016

quinta-feira, 24 de março de 2016

Pêlos? Que horror!


Noutro dia num zapping fui dar com uma conversa naquele programa «passadeira vermelha» na siccaras. E estão a falar das axilas. O quanto é horrível as mulheres que não se depilam. Acrescentam que as americanas usam gilete - um horror, uma barbaridade! Pasme-se, depilam-se em casa. - constata a apresentadora e reforça uma das comentadoras, em incredulidade. 

Como se tudo isto fosse algo desprezível. Olhei aquelas pessoas e sinceramente senti pena de todas. Tão liberais para umas coisas, tão tacanhas para outras. No fundo funcionam como a sociedade da moda as manda agir, porque cabecinha para pensar para além da norma... ali faltou. 


"Ai que horror, ter pêlos!" - diziam.
"Ai que horror não ir ao esteticista removê-los"


Por amor à Santa... da Páscoa.
Ter pêlos é normal. Tá? NORMAL. Não há nada de escandaloso na normalidade. Mas começa a existir na anormalidade nas ditaduras das modas. Está na moda censurar as modelos demasiado magras e censurar o establishment por pressionar as mulheres a atingir padrões impossíveis. Mas censurar a ditadura dos pêlos removidos, que podem trazer infecções e não é tão saudável quanto isso, ainda não virou moda, pelos vistos. A indústria não pode ver uma mulher com uma sombra debaixo do braço que faz logo uma ampliação de uma foto só para a poder achincalhar publicamente. Os fracos engolem o isco e entram na onda dos insultos e do escândalo, achando que não agem incorrectamente ao assinar em baixo. Bom senso, maior entendimento, sff. 

Britney Spears gozada por ter sido fotografada com uns poucos pêlos debaixo do braço

Tão liberais se mostram ser quando o assunto é a adopção de crianças por casais gays, tão liberais em assuntos que, resumindo, espelham a tendência da sociedade mas a coisa trava aí, não é mesmo? Até que ponto conseguem ver mais além? Aposto que depilavam o Tony Ramos inteiro! Tal a aversão ao pêlo, irra que é burrice demais! Só porque esta sociedade declarou guerra ao pêlo por motivos unicamente económicos, surgem estas mentes a despejar postas de pescada nesse sentido também. Oh, que liberalismo. Que inesperado, puf! Os médicos nem avisam que pode ser perigoso nem nada, oh esclarecidas comentadoras.



Eu cá tenho as minhas axilas depiladas sim, mas não vejo problema algum com quem não as tenha. Não vejo sequer problemas com quem não depile as pernas. Ou o buço. O que é que tem? Não se enquadra na ditadura da moda comercialista? Temos pena! Deus fez-nos com os pêlos, podem tentar disfarçar o quanto quiserem, negá-lo, renegá-lo, ignorá-lo. Se forem para uma ilha deserta como o Tom Hanks no filme Náufrago, podem esquecer a esteticista e até a «escandalosa» gilette. Vão parecer umas macacas de tão peludas. E terão de se ver como realmente são. 

E tomara que pareçam assim:

Por mim que façam como quiserem. Tirem, acho bem, não tirem, acho bem, podem pintar, colar,  aplicar brilhantes strass, dar formas, fazer tranças... Makes no difference to me. Mas que só saibam julgar por um lado demonstra alguma ignorância e revela uma mente tacanha. Isso é ficar agarrado a um preconceito e custa-me um bocadinho. 

quarta-feira, 23 de março de 2016

O suicídio

Quando era pequena li numa capa de revista a opinião de uma pessoa sobre o tema do suicídio.

Aquela frase pôs-me a pensar. Seria verdade? Ou seria mentira?
Sabia que ainda me faltava mais vida, e maturidade para compreender a fundo a questão mas isso não me coibiu de reflectir no assunto e procurar encontrar uma resposta. Pelo que até então tinha vivido, fiquei revoltada por alguém poder reduzir o que deveria ser um acto de desespero sofrido, numa acção de cobardia. Imaginei que quem o cometesse devesse precisar de muita determinação ou estar profundamente deprimido. Porque pensar, todos pensamos. Acho que não há quem não pense. Mas daí a fazê-lo? Onde fica a fronteira? 

Não acreditei que as pessoas fossem fracas. Não quis acreditar. Nem cobardes. Talvez até fosse precisa muita coragem. Achei que estariam a sofrer e esse intenso desespero as conduzia a uma decisão que, noutras circunstâncias, não tomariam.



Por outro lado, conseguia entender porquê alguém veja no acto uma atitude de cobardia. Afinal, estavam a desistir da vida. Desistiram de lutar, de contrariar os males que os assolavam. Os mesmos que assombram tantas outras pessoas que não desistem. 

Mas nem todos estão rodeados do mesmo tipo de ambiente, do mesmo tipo de pessoas - que poderá influenciar a decisão. Fiquei num impasse. Embora inclinasse mais para a defesa dos «fracos», como aliás, sempre faço.



Ainda hoje não sei bem o que pensar sobre este melindroso tema. Pessoalmente nunca conheci ninguém que tivesse cometido este ato. Conheço quem mate e quem se vá matando ao longo da vida... De outras formas, continuando a respirar, a comer, a acordar...  Mas não quem tenha a cobardia de o fazer fisicamente.

De suicidas só escutei histórias. Ora mais próximas, ora mais distantes. Um homem que perdeu um filho, um desconhecido que se atirou na linha do comboio, alguém que saltou pela janela ou de uma ponte. 


Contudo, a pesar da dúvida, duas coisas parecem-me claras. A primeira e a mais importante é que a responsabilidade é de TODOS e ao mesmo tempo, do indivíduo. E quando digo todos, digo mesmo todos... eu, tu, quem nunca o conheceu e quem lá na primeira-classe o chamou de gordo caixa de óculos ou quem apenas ontem esbarrou na rua com a pessoa e mandou-o olhar por onde anda,"ó palerma". Nós todos, como sociedade, temos uma parcela de responsabilidade. Porque bastaria um gesto, uma palavra, uma casualidade, e o desfecho podia ter sido outro. 

Ao mesmo tempo e no final de contas, não se pode carregar essa culpa sozinho. No derradeiro caso, a escolha foi do indivíduo. A decisão só ele a poderia tomar. 

Há coisas opostas que são possíveis ao mesmo tempo. Esta é uma delas. A responsabilidade é de todos e de ninguém. 


Mas aflige-me, por exemplo, a insensibilidade diante de uma notícia de um ato suicida. A primeira vez que isso me incomodou foi há uns 15 anos, quando uma figura conhecida optou por esse ato. Estava numa empresa onde apareceram umas pessoas que diziam tê-lo conhecido. E para meu espanto, começaram a dizer que ele era «esquisito» e «não se perdia grande coisa». Transformaram o assunto em comédia e até fizeram umas piadas. Não dei a transparecer o meu horror mas aquelas pessoas achei-as insensíveis e más.


Depois no ano seguinte ou quase, uma colega contou-me que tinha existido um suicida na linha de comboio e tratou o caso assim:


E por isto digo que somos todos coletivamente responsáveis. A indiferença ou o descaso contribui para tal. Acho que se não se tiver nada a dizer sobre o assunto, então que não se diga parvoíces. A pesar de tudo, sempre é uma vida. E a vida de desconhecidos não devia valer menos que a nossa. 

Concluí que jamais ia cometer esse ato. Porquê? Porque revoltei-me com a maldade em si. Parece que há quem torça pelas tragédias e as vai alimentando. Só para depois poder dizer: "eu conheci fulano! Que horror! Quem diria?" e depois levantarem mil razões que acham ter servido de motivo. "Oh, estava desempregado. Oh, estava doente! Oh, não batia bem da cabeça!".

Mas sabem uma coisa? Jamais podemos dizer «desta água não beberei». A vida é longa, sofrida e reserva dissabores - isso é garantido. Não há nada que nos distinga dos que cometeram suicídio. Qualquer um de nós pode ver-se numa situação ou num momento em que tal lhe passa pela cabeça e tem o impulso. Vindo este a ser infeliz/feliz e concretizar-se. Mas também pode dar-se uma hesitação e o acto não se concretizar.

Ainda bem que este não é um país de cidadãos extremamente armados ou muitos encontrariam uma via rápida num momento de aflição.

Já escrevi demais.
O que pensam deste assunto? Já reflectiram nele?
Viveram de perto esta realidade?

terça-feira, 22 de março de 2016

As hormonas masculinas são f**d-das!


Acendi a televisão e fui parar ao final de um programa sobre uma mudança de sexo.

Estão a entrevistar o tipo que fez a mudança junto com a namorada e perguntam a esta como foi para ela. Esta responde que se sente uma sobrevivente. O tipo não gostou. E conta que ela é uma ex-alcóolatra. E a miúda responde: "Sim, estou sóbria agora, mas não estive durante a faculdade". E o tipo responde: "Não é fácil passar pelo alcoolismo e por uma mudança de sexo".

Eu pensei cá com os meus botões: "És um sacana".

Noutro dia assisti a um ténue episódio de bulling doméstico. Da mulher para o homem. E comecei a reflectir sobre as expressões "todos os homens que valem a pena estão casados" e "eles não sabem escolher as que valem a pena".

E concluí que ambas são verdadeiras. Os melhores homens estão, realmente, casados. E a maioria, infelizmente, com mulheres que lhes infernizam a vida mas que eles cegamente, idolatram. O oposto também acontece (não se atraíssem os opostos) e mulheres doces e compreensíveis que se casam, acabam com homens violentos e manipuladores. Temos então assim algo que nunca vai resultar. Mulheres boas solteiras, homens bons casados. Mulheres egoístas casadas, homens maus solteiros...

E a responsabilidade é de ambos os sexos, que quando sabem o que querem, vão procurá-lo nos recipientes errados e se iludem consigo mesmos e com a outra pessoa. Bem sei que há excepções, felizmente alguns, acertam-se, se não à primeira, pelo menos ao fim de algumas tentativas. Mas no geral, dou como corretas as expressões. 

Voltando à mudança de sexo, acabei por constatar que até um homem que nasceu mulher prefere ser um homem sacana. Fazem a mudança de sexo mas parece que o que querem absorver do sexo que lhes foi fisicamente oposto é a canalhice. Tudo o que é de «macho», feio, porco e mau...

Noutra ocasião assisti a um outro programa nacional onde um concorrente também tinha realizado uma mudança de sexo de mulher para homem. Mas o que assisti sobre o carácter do indivíduo, não apreciei. Preconceito para com a mudança de sexo não me pareceu que tenha existido, nem vindo do público nem dos colegas. Curiosidade sim, mas ataques, descriminação e maledicência, nem por isso. Mas convém «alimentar» as excepções à regra, para que o indivíduo possa manter-se com um certo estatuto de quem é especial, como se isso legitimasse todas as suas atitudes menos corretas.  

Penso que nada deve servir de pretexto e ser usado como carta branca para não se ser julgado pelos nossos actos. Nem mudanças de sexo, nem opção sexual, nem doença grave e quase fatal. Somos todos indivíduos, façamos parte de que género for. O que nos distingue não é esta carcaça que carregamos, mas quem somos. E isso, se não me agrada, pouca diferença faz os «traumas» que a sociedade reconhece como legítimos e desculpáveis. 

Como sociedade, é um erro as pessoas «passarem a mão» a casos distintos, quando se devia recohecê-los mas atribuir trato igual. Além de dar amor e entendimento, educar é saber recriminar quando necessário. Provavelmente indivíduos com problemas de identidade de género, ao crescerem e durante a formação da sua personalidade, podem ser exageradamente reforçados com noções de que devem gostar das pessoas que o entendem e o resto não interessa, etc. Aumentando assim a distância entre o esclarecimento e o entendimento com o mundo. Contribuindo assim para que um indivíduo a crescer com alguns problemas de identidade se sinta por direito com legitimidade para descriminar e agredir (porque se sente agredido), para fingir, para ser injusto e por vezes cruel com o semelhante porque ele, que é o que é, passou pelo que passou...

Ao se individualizarem podem correr o risco de se «desumanizarem» ou se colocarem num patamar tão à parte que se tornam particularmente egocêntricos. 

A sociedade simpatiza com o «desgraçado». Tende a imaginar a angústia que passou na vida, se compadece e até se torna, inicialmente, defensora e se auto proclama admiradora de indivíduos com determinadas «desgraças». Mas se essa pessoa «desgraçada» revela ter um carácter que deixa a desejar, penso que não vai ser aquilo pelo que passou que lhe confere um estatuto irrepreensível. 

De volta ao programa na TV, o tipo que mudou de sexo é mais uma vez entrevistado e nota-se que tem consciência do que são os media e sabe a imagem que quer passar. "Estou feliz e a vida nunca foi tão fácil". Tornando a mudança de sexo assim, uma coisa ligeira, normal, pouco relevante. O repórter de seguida pergunta: "O que é que a sua mãe pensa disso?". Milésimos de segundos apenas de uma hesitação com um olhar semi-fulminante, que relembra o descontentamento de meterem a "mãe" na conversa e o tipo responde, recuperando o sorriso braqueado: "Isso terá de perguntar a ela" - abrindo mais o sorriso.

A cena passa para a festa de comemoração. Amigos se reúnem num apartamento, o bolo que mandaram fazer faz lembrar um ritual canibalístico pois é um torço masculino, divertem-se, riem e chega o momento do discurso.

Novamente a habilidade, a capacidade de dizer aquilo que sabe que cai bem e é o que se espera ouvir. No discurso não esquece de agradecer à namorada porque sabe que "não é fácil lidar com uma mudança de sexo". Pois. - pensei. Não é fácil mas quando lhe perguntaram como foi para ela não a deixaste acabar o raciocínio e apressaste-te a expô-la como ex-alcóolatra. O que revela um carácter manipulador que gosta de diminuir a pessoa ao lado. Como que a compensar-se por não ser o único com um esqueleto no armário... 

Então voltei às minhas reflexões e concluí que o gene masculino é mesmo lixado! Venha de que direcção vier, «macho» que é «macho»... é macho....

Nota: voltei a acender a TV e fiquei chocada com o que ouvi sobre a vida privada de Einstein.  Fica para outro post. 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Ainda sobre o dia do Pai - no facebook

O que reparei neste dia de pai que se celebrou no dia 18?
As redes sociais ficaram cheias de fotografias... de pais. Pais expostos pelas esposas, que, tendo filhos menores ou maiorzinhos, decidem comunicar ao mundo que ele é pai. E não um qualquer, mas o delas, o seu, o melhor.

Depois foi com algum espanto que observei também muitas publicações em que o tom foi mais negativo. Frases como "Parabéns a todos os pais que o sabem ser" ou "Gerar filhos é fácil, ser pai é que não é para qualquer um!" - publicado por um homem que, desta forma, dá a entender que está do lado dos "bons" ao mesmo tempo que está a passar um juízo de valor sobre os restantes. E depois ainda tem as divorciadas/separadas ou o que for, que também decidem deixar uma farpa. Oh! As heroínas!


Exemplo 
Bom, talvez seja eu que sou retrógrada. Mas garanto-vos: Não gostei de nenhuma destas mensagens e dizeres. Tudo bem, todos nós sabemos: tanto homens como mulheres há os que não cumprem o seu papel nada bem. Mas porra! É o dia deles. Custa deixá-lo passar sem virem com moralidades?


sábado, 19 de março de 2016

A lembrança para o Dia do Pai

Nunca deixei passar um dia como o de hoje sem dar os parabéns ao respectivo progenitor :) Procuro também oferecer algo, apenas um gesto simbólico de apreciação e carinho. 

Mas quase todos os anos deixo esta tarefa para a véspera. E ontem não foi fácil. Até porque não é fácil presentear um homem que, se abrirmos umas tantas páginas de revistas com sugestões de presentes para o dia do pai, a probabilidade de nenhum se adequar a ele é quase sempre de 100%. 

Nem a lembrança de uma caixa de bonbons de chocolate me salvou. O supermercado onde fui não os tinha, só tabletes, muitos ovos e muitas amêndoas. 

De mãos a abanar, pela primeira vez... E foi então que, de madrugada, tive uma ideia, que coloquei em prática. Para alguma coisa têm de servir as redes sociais. E meu pai até aprecia andar pela internet, para ler notícias e debater desporto. Mas também para recordar o passado. Então... ofereci uma Meme.

E o que é isso de uma meme? São aquelas imagens com dizeres com letras garrafais brancas. Normalmente são humorísticas. O resultado ficou espetacular! Adorei. E ele também.



Exemplos de Memes

a BELEZA de um dia de chuva

Saí para a rua naquele que prometia ser um dia invernoso de intensa chuva. Espreitei o tempo pela janela e vi o céu cinzento de nuvens. Estava a chover. No entanto senti que aquele dia estava lindo. A vontade de ir ao seu encontro foi maior que o que as nuvens prometiam.

E então, após o almoço lá fui...
E assim apareceu o sol, o dia tornou-se luminoso, radiante e, embora ainda chuvoso, mal se deu pelos pingos de chuva.

Foi então que os avistei tão bonitos... aos pingos da chuva. Munida com o meu recém-recuperado smartphone, procurei registar algo fantástico, que estava por todo o lado: a primavera a brotar entre o inverno







FELIZ DIA DO PAI!

sexta-feira, 18 de março de 2016

Cartomância, videncia e afins

Fui parar a um site de cartomancia gratuita. Por curiosidade e pesando bem as coisas, decidi preencher o formulário, de modo a obter a dita-cuja. Concluída a tarefa surge de seguida a informação: "confirme já no seu email o link que lhe enviamos" e surgem os logotipos de três serviços de email - certamente para facilitar o acesso.


Vai que já tinha o email aberto pelo que não carreguei no supostamente inofensivo link. Não recebi qualquer contacto. Acho que isso só acontecia se carregasse naquele link. Hoje em dia sabe-se lá o no que nos podemos meter com um simples pressionar de um botão.

Alguma coisa aquele site precisava ganhar com aquilo - e não eram apenas os dados. Julgo que algo ia acontecer ao carregar no link. Provavelmente me conduziria a uma "página não encontrada" ou até mesmo ao próprio login do email. Mas o que viria junto é que não se sabe! Spyware, virus...

Aquele site era bogus. Era treta.
Mas muita vez me interrogo onde andarão as pessoas que realmente têm uma sensibilidade maior para sentir as energias dos outros. 


Esqueço isto e saio do google crome para outro servidor de internet. Entro no facebook. Subitamente reparo, no separador ao lado, uma publicidade a um «espaço holístico» que promete tudo e mais alguma coisa.

E fico a pensar no quanto as palavras-chave inseridas nos motores de busca, o próprio percurso de links que seguimos na internet vai informar à velocidade relâmpago todos os «parceiros» na internet. É que estava noutro servidor... fui para outro e a pesquisa que fiz num, surge em publicidade no outro.

Por vezes sei o que outras pessoas pesquisaram na minha ausência, porque reparo nas publicidades e sei que são temas de seu interesse.

A internet tem pouco de privado. Ainda bem que ainda se pode ter alguma ilusão de privacidade. 

quarta-feira, 16 de março de 2016

O que eles realmente querem?

Para quê serve o Centro de Emprego?

Há uns dias enviaram-me uma carta para responder no prazo de 10 dias. Caso contrário, anulariam a inscrição. Agora enviaram outra carta. Para comparecer dia X num determinado local, caso contrário anulam a inscrição e ainda impedem a re-inscrição durante três meses.

E eu pergunto a quem me lê: o que querem eles?

a) Encaminhar o desempregado para uma situação de empregabilidade.
b) Retirar o desempregado das estatísticas de desempregados no país.

Como incluir entes que já partiram na tua cerimónia de casamento


Pode parecer uma ideia algo funesta, mas está longe disso. Afinal, quando é que mais nos recordamos daqueles que partiram, se não nos momentos mais importantes das nossas vidas? Quando se trata de uma cerimónia de casamento, a dor da ausência faz-se sentir mais. Deseja-se que o pai, a mãe, a tia, a avó, o irmão, a irmã estivessem ali, em carne e osso, para poder partilhar o momento.

Em algumas partes do mundo ocidental desenvolvido, começou-se a adoptar novos hábitos para incluir os que partiram na cerimónia de casamento. Aqui ficam umas ideias. 

O velho medalhão com fotografias

Nunca sai de moda. E se não lhe apetecer carregá-lo ao pescoço, existe sempre o alfinete. Se ainda assim tal não agradar, que tal adoptar o medalhão a uma pulseira?

Algo novo, algo emprestado, algo azul...

Aqui tudo é possível. Se o falecido for homem e tiver botões de punho, que tal usá-los? Uma mola para gravata, uns brincos, um adorno... Se o falecido tinha algo azul, fica sempre bem incluir um pedaço de tecido dessa cor na indumentária da cerimónia. 

Palavras com significado cozido às roupas

Tanto serve para o noivo quanto para a noiva. Se existe uma frase importante entre a pessoa que faleceu e a que vai casar, que tal cozê-la algures no interior ou exterior da roupa cerimonial, para que a saiba sempre ali, junto de si? Um retalho de tecido de uma peça igualmente apreciada também faz o mesmo efeito. 

Deixe o bouquet falar

Medalhões bem criativos, um pequeno adorno ao ramo de flores

O quadro da memória

Recorra a fotos e reserve um espaço para a presença e lembrança dos que estão ausentes.

O lugar reservado

Seja para uma só pessoa ou para mais que uma, uma cadeira, uma mesa ou qualquer outro espaço simbólico com flores, representa os ausentes de corpo, presentes em espírito. 

A música favorita

Tem de passar, aquela(s) música(s) especiais.
Explique aos convidados a razão do momento.

De corpo e voz

Tem imagens em vídeo? Reserve um momento para as recordar. No copo d'água, antes da refeição e no momento do discurso, mencione a importância dessas pessoas e deixe passar numa tela um minuto de imagens dos saudosos. Depois retorne à normalidade da cerimónia. 

segunda-feira, 14 de março de 2016

A morte de Nico


Eu nunca o conheci, pelo que me referia a ele como Nicolau Breyner. Mas os amigos, conhecidos e colegas, tratavam-no por Nico. 

Duas gerações de atores - do jovem ao experiente
(bastidores do filme Virados do Avesso)

E foi assim que vi e ouvi um rol de figuras de peso, do universo artístico e político, desfilar pelos canais de televisão para falar do falecimento do seu amigo.

Todos com vozes embargadas, escutei o final do depoimento de José Pedro Vasconcelos na Sic Notícias, realizador com quem o ator fez, entre outros, o filme "Os Gatos não têm vertigens". Neste, a sua personagem morre subitamente, de ataque cardíaco. E depois vira um «fantasma», na mente da sua viúva. 

E existe «melhor» forma de falecer do que subitamente?


E como foi assim que Deus quis, apanhou muitos de surpresa. Virgílio Castelo na RTP3 fez questão de mudar o registo de tristeza e optou por partilhar histórias divertidas de Nico. O próprio Nicolau quando cumpria as homenagens fúnebres, achava uma maneira de aligeirar o ambiente - revela Virgílio. E depois de contar umas histórias envolvendo uma carroça de alfaces e explicar que Nico chegava ao refeitório, não fazia um prato de comida mas tirava-a do prato dos outros, acaba por sintetizar que ele era especial por saber desconstruir a tristeza. 

No mesmo canal e no mesmo cenário, Pedro Lima recorda como este lhe serviu de mestre - embora nunca tenha sido seu mestre. 

Nicolau no 5 para a meia-noite, com Jeremy Irons
humilde, franco, cúmplice e divertido

De volta à Sic Notícias, Pinto Balsemão fala que Nicolau foi uma das primeiras figuras a apoiar o projeto de uma televisão independente, decorria o ano de 1986. Já Júlio Isidro, revela na RTP3 que se arrepende de ter adiado o convite para Nico participar no seu programa na RTP Memória. E Rita Blanco, entrevistada ao telefone na Sic Notícias, diz que o ator não era de dar lições a ninguém e que essa era uma das suas melhores características. Rita quer falar da pessoa Nicolau, mas a pivot insiste em fazer perguntas sobre como uma atriz avalia um ator. Como se não soubesse que a sua entrevistada é conhecida pela sua frontalidade e se aborrece com questões menos relevantes, a pivot dispara mais uma pergunta em contra-mão, o que leva Rita, com voz embargada e já a chorar, a ser sincera: O que eu quero agora é desligar para poder chorar.

Na Tvi24 Sílvia Riso, outra que acabou de receber a notícia, procura terminar rapidamente o seu depoimento recolhido no set de uma novela, pois está em esforço para segurar as lágrimas. Tozé Martinho refere que Nicolau teve formação em ópera, em Itália, isto porque a Tvi24 foi buscar imagens de arquivo da RTP memória e mostrou o ator como cantor, no festival da Canção de 1968. 


Na RTP3 Maria do Céu Guerra conta que estava a viver na casa dele por esta ficar mais perto da maternidade onde foi ter a filha, tendo sido ele a primeira pessoa a ver a bebé. Diz que Nicolau era «a alegria e a bondade - quase santidade». Refere o que mais se tem ouvido sobre as qualidades de Nicolau: o ator passava alegria aos outros e encarava os males da vida fazendo-se de desentendido para as dores e infelicidades. «Passava por cima e continuava sempre a sorrir. Super culto e inteligente, sempre a fingir que não» - conta ao telefone. «Era absolutamente contra o snobismo e o elitismo», diz. «Não acredito ainda que ele tenha morrido!» - diz ainda mais emocionada, ao mesmo tempo que revela que ela e Nico tinham dois projetos em andamento. 

O Presidente da República também se pronuncia sobre este falecimento. Aproximadamente uma hora depois, também o primeiro-ministro.

«Não levava nada a sério. Nem a si próprio» - revela José Pedro Vasconcelos, agora em pessoa na RTP3. 

E penso que isto resume tudo. 

Em todos estes depoimentos que fiz questão de ir apanhando em zapping, fui também tentando perceber como é que as estações faziam a gestão deste acontecimento. Todos vamos falecer - é uma certeza. Mas quando se é figura pública, o mais certo é que os meios de comunicação Social, já a contar com isso, tenham preparado algures umas imagens, uns textos, just in case... 

Não parece ter sido o caso para Nicolau. 

Num despreparo maior, a Sic usou repetidamente imagens de noticiários aquando Nicolau, o político e Nicolau, nos globos de Ouro. Já a RTP3 raramente mostrou imagens recentes, foi buscar as mais antigas do seu acervo - a maioria a preto e branco. Mais tarde já recorreram a algumas imagens de filmes. A Tvi24 foi «mais longe», mas também usou e abusou de imagens do ator nas suas novelas. Em suma, ninguém estava preparado. Mas foram rápidos a recolher depoimentos - aí tiro-lhes o chapéu. 

Apesar do despreparo, aposto que, nos próximos dias, as estações vão mostrar e falar muito de Nicolau Breyner.

Não deixo aqui um RIP porque acho que ele conduziu a sua existência na paz... e a carregou consigo. A sua presença parece ter sido tão marcante que permanece forte nos que o conheceram, mesmo tendo partido. Não está lá, ainda está cá, mas não está... E como, segundo os testemunhos, era uma pessoa tão esclarecida, acho que ia querer aligeirar a situação e não a levar tanto a sério.... :)

sábado, 12 de março de 2016

Opá. O que é isto?!???

Encontrei esta imagem no mural de facebook de outra pessoa e tive de fazer um print. 
Digam-me lá o que é que é isto??


Deixem-me já dizer que me REPUGNA mensagens como esta constantemente a serem partilhadas na rede como se o cancro fosse um pretexto para ganhar simpatia e notoriedade. "Olha que giro, eu jovem e careca! Bora lá fazer um chorinho «ninguém gosta de mim» e porquê? Porque tenho cancro. Assim toco no botão de culpa e pena das pessoas e consigo ser notada. Assim que soltar a palavra "cancro" ninguém vai ousar recriminar-me. Cancro=Coitadinha. Bora! Vou fazer pose à Miley Syrus enquando paquita da Xuxa e ninguém, absolutamente ninguém vai OUSAR fazer uma crítica que seja, porque senão um batalhão de pessoas desconhecidas que se armam em carrascos, vão se manifestar em peso, a insultar, a fazer votos de igual sorte e a ameaçar quem se atrever a tecer uma crítica que não seja positiva a alguém que apareça com a cabela raspada e chore: tenho «cancro». Porque uma vez mencionada a palavra «cancro», tudo o resto é proibido. Nenhum julgamento pode ser passado a quem é vítima desta doença.

Ainda que quem seja vítima da mesma decida transformar-se numa celebridade das redes sociais "à pala" disso. Ainda que se use uma doença que merece respeito para futilidades relacionadas com a vaidade e a necessidade também fútil de ganhar atenção. Ainda que existam outros possíveis motivos ainda mais repugnantes por detrás desta ostensiva partilha de jovens - que vão de crianças a adolescentes - sempre carecas a dizerem-se com cancro.

Já repararam que o Cancro que é «belo», o cancro que é para «mostrar» não parece atingir pessoas idosas? Ou não atraentes, já agora?

Está a GLAMOURIZAR-SE a doença com actos repugnantes de ostentação. E isso é tão verdadeiro que estão ausentes dessa corrente os homens - que pelo vistos não sofrem de cancro nem rapam o cabelo - e os velhos. Nenhuma mulher idosa surge de cabelo rapado. Ninguém com rugas, aliás! É uma doença exclusiva das mulheres jovens e atraentes.

Não defendo que quem está a lutar contra a doença deva fechar-se em casa nesta era que vivemos, esconder-se em «vergonha». Mas porra!! Bom senso, gente, bom senso!!

Nada de extremos. Sinto vómito a querer formar-se quando deparo-me com uma coisa como esta. Ainda mais quando usam uma criança linda, e metem o dizer: "Já sei que ninguém gosta de mim porque tenho câncer". "Partilha se gostas". WTF??

Cá para mim não me surpreenderia se muitas destas «partilhas» camuflassem pedofilia.
E pronto. Disse. Quem concordar partilhe e comente, porque já sei que, se não o fizerem, é porque «não gostam de mim» lol :P


It's so f... cute!


Eu só ri, e ri ao ver isto.
O rapaz - o youtuber melhor dizendo - tem talento. Mas o divertido é descobrir que alguém realmente criou um jogo de computador, baseado no estilo dos clássicos dos anos 80, com o Leonardo Di Caprio e a sua perseguição ao Óscar. Esta hilário.... Vejam. Quem entende bem o inglês penso que vai surpreender-se.

Esta capacidade de fazer humor com as coisas, acaba por aligeirar o stress e relativizar o não tão importante. Vejam o filme. Além do Leo, surge a Lady Gaga e o Mat Dammon vestido de astronauta! Opá, deu para rir e isso é bom :D


Também quer jogar? Carregue aqui.

PS:
Agora compreendo porque é que o tipo do vídeo está sempre a mandar a Lady Gaga dar uma volta! É que ela atrapalha mesmo o Leo, eehehe.  Lutei com um urso, pude ver o Leo a «atuar mais intensamente» e, claro, andei à «caça de gambuzinhos». Ups! Quero dizer... nomeados. Hilário! Se ao menos por cá alguém fizesse um jogo destes com o Coelho e a sua ilusão de que ainda é Primeiro Ministro... era fazê-lo ir inaugurar escolas abertas há anos e principalmente, ir inaugurar o Convento do Carmo em Lisboa, ahahahah!!!!

Diverti-me!


terça-feira, 8 de março de 2016

O significado de 8 de Março

Não sou de dar destaque a datas mas, já que existe uma, quero que entendam a minha compreensão da mesma. 

Feveireiro 2016 - Equador

Duas jovens Argentinas queriam conhecer o mundo e começaram por uma viagem para o Equador. Não mais deram notícias. Foram encontradas assassinadas. Nas redes sociais começaram a censurar as duas amigas: Elas não deviam ter ido. Deviam ir só com a presença de um homem. Desacompanhadas fizeram por merecer. Provavelmente queriam andar na borga, insinuarem-se aos homens com os corpos expostos em roupas sedutoras. Foi delas a culpa do que lhes aconteceu - agressão, violação e assassinato por faca. 

6 Março 2016 - Índia


Uma jovem de 20 anos pula de uma varanda para escapar a uma violação em grupo. Está no hospital. Um dos três homens que a pretendiam violar era o seu namorado. Na Índia as mulheres são violadas em grupo com frequência, sendo que nem com os namorados estão a salvo. Os homens responsabilizam qualquer mulher pela lascívia que sentem. E reagem com o impulso selvagem de as possuir e descartar de seguida - nem sempre vivas. As violações de mulheres - não só indianas como também turistas - ganhou projecção mundial em 2012, quando um grupo de seis rapazes a viajar num autocarro, espancou brutalmente o namorado de uma rapariga para de seguida a violarem em grupo. A violação incluiu tortura com objectos metálicos inseridos na vagina e intenção de morte. A jovem de 23 anos foi depois atirada para o asfalto e só não lhe passaram com o autocarro por cima porque o namorado, igualmente atirado borda fora, conseguiu puxá-la para fora do alcance dos pneus do veículo. O motorista do autocarro testemunhou o seguinte: "não dei por nada".

A grande maioria dos homens e também algumas mulheres insurgiram-se e gritaram: "Estes rapazes são inocentes"! "Ela é que é a culpada!".

25 Março 1911 - EUA

Em pleno optimismo gerado pela revolução Industrial - que prometia uma melhoria de vida para homens e mulheres, em particular para os Imigrantes chegados aos EUA, um incêndio num prédio de Nova Iorque onde estava em funcionamento uma fábrica de confecções de roupa foi a causa de morte de 125 mulheres e 21 homens*. As operárias costuravam camisas quando as chamas as apanharam no 9º andar. Em pânico e sem alternativas de fuga, foram vistas pelos transeuntes a se alinharem no parapeito exterior do prédio. Mas pior do que ver este cenário de horror foi conhecer-lhe as causas. Muitas destas mulheres, na sua maioria jovens de menos de 25 anos e imigrantes italianas, foram vistas com as chamas a subir pelas saias, com o cabelo a arder enquanto se atiravam do 9º andar, outras procuraram no salto alcançar a escada dos bombeiros, que só chegava até o 6º. Estatelaram-se no chão. O barulho surdo dos seus corpos a ficar gravados na memória de quem assistiu, sem poder fazer nada para as salvar. 

A cerimónia fúnebre e os milhares que choraram a tragédia
Só depois de apagado o fogo se descobriu o verdadeiro alcance da catástrofe e do horror. Algumas mulheres haviam caido no poço do elevador, na tentativa de fuga, outras desceram pela escada do poço que, com o peso, colapsou e atirou-as mais rapido para a morte. Outras foram encontradas carbonizadas debaixo das secretárias mas a maioria dos corpos foram encontrados amontoados uns em cima de outros junto às portas de saída - uma estava fechada à chave por ordem expressa dos patrões - que haviam escapado do incêndio pelo telhado e posteriormente foram inocentados de qualquer responsabilidade. 

Ao contrário de quem trabalhava no e 10º andar, as operárias do 9º não foram avisadas do incêndio. Uma das duas saídas de emergência tinha sido trancada para salvaguardar a hipótese de furtos ou pausas. Estas mulheres eram submetidas a um verdadeiro trabalho de escravo. Eram intensamente controladas por capatazes, que cronometravam as suas idas à casa-de-banho, trancavam a porta de saída de emergência para que não pudessem sair e fazer uma pausa e escutavam cada conversa que conseguissem ter umas com as outras - usando para o efeito uma recente invenção que os permitia aproximarem-se sem serem escutados: os sapatos com sola de borracha. Os capatazes/feitores tinham o poder de fazer com que fossem demitidas. À mínima coisa, perdiam o emprego.
A sinalização indica a «saída em caso de incêndio» (foto provável da referida instalação)
(subitamente esta imagem fez-se recordar os modernos callcenters)
Na fábrica existia um cartaz com o dizer: "Se não vieres trabalhar no Domingo, não precisas de vir na Segunda" - isto porque as greves sindicais a protestar por melhores condições de trabalho (ordenados, carga horária e folgas) e de segurança estavam na ordem do dia.  As operárias desta fábrica trabalhavam 14 horas diárias, por vezes horas extras, fazendo camisas - e ganhavam à unidade. Mas mesmo a mais rápida e eficiente das costureiras não conseguia mais que um modesto salário de 6 a 10 dólares/semana. Mal sobrava para comer, depois de pagarem o aluguer dos quartos onde moravam. Escravatura moderna, portanto.


O dia Internacional da Mulher já foi comemorado em muitas datas: 28 de Fevereiro, 15 e 25 de Março. A ONU declara o ano de 1975 como o ano da mulher e em 1977 é adoptado pelas Nações Unidas o 8 de Março como o dia internacional da Mulher. Mas como tudo o que... vem de um Homem - sem querer desmerecer nenhum - a data foi escolhida em «homenagem» às vítimas de um acontecimento fictício: um outro incêndio fabril de 1857, que nunca aconteceu. 


É ou não importante fazer para que se entenda por este mundo o conceito e direito de igualdade? A mulher não é feminazi nem muito menos feminista - termos estes inventados por alguns homens, que assim os usam como alimento para tentar justificar o injustificável: o seu desprezo, ignorância e idiotice. 

Que esta data traga cada vez mais a igualdade a muitas das mulheres por este mundo fora, mulheres que ainda vivem sem saber que são iguais ao seu semelhante Homem e merecedoras de respeito e admiração. 

*outras fontes indicam 129 mulheres e 17 homens. 

quinta-feira, 3 de março de 2016

Não foi uma torneira, foi um conta-gotas

Não resisti: procurei, encontrei e vi o filme "Sufragistas".

Ao contrário dos últimos que visionei, o final é a parte mais forte. Nesses créditos surgem as datas em que o direito das mulheres ao voto é finalmente obtido na Inglaterra. Logo de seguida passa uma lista de muitos outros locais no mundo onde o direito ao voto no feminino é permitido, e respectivas datas. Infelizmente não aparece Portugal. 

A Nova Zelândia detém um título de causar orgulho: foi o primeiro país a conceder às mulheres o direito de sufrágio. Mais de 30 anos antes do Reino Unido. O último a fazê-lo foi a Arábia Saudita, em Dezembro do ano passado. Acho que é um momento digno de livro! Se fosse uma mulher saudita, faria por escrever um livro detalhando os acontecimentos e até já tenho título*: Dedo Púrpura.

mulher muçulmana a mostrar o dedo de voto
Mas então e Portugal? Fui verificar. Já tinha lido sobre a primeira mulher a votar em Portugal- Carolina Beatriz Ângelo, médica cirurgiã, viúva e com filhos. Aproveitou uma lacuna na lei e em 1911 votou! E ainda bem que o fez, faleceu pouco tempo depois, coitada!! Trataram logo de mudar a lei, não fossem aparecer outras mulheres com as mesmas pretensões. 

à direita: Carolina no dia em que votou (28 de Maio de 1911)
à esquerda: Ana de Castro Osório, escritora e presidente da liga de sufragistas portuguesas
A segunda mulher a votar em Portugal só o pode fazer 15 anos depois de Carolina, em 1926. Mais uma vez, o acto de cidadania só era autorizado às mulheres com curso superior ou ensino secundário completo, que fossem maiores de idade e chefes de família. Em 1931 estendeu-se um pouco mais as condições, que ainda assim permaneceram restritivas. Em 1933 novas mudanças... as solteiras de boa índole poderiam votar... para as juntas de freguesia, somente. A total igualdade constitucional só surgiu de verdade depois do 25 de Abril de 1974... Mais precisamente na constituição portuguesa de 1976!

Foi só aí que as mulheres adquiriram um estatuto de igualdade. Passaram a ser cidadãs de primeira classe, não de segunda. Acabaram-se os mitos de que não tinha capacidade intelectual para votar, que tinha de ficar em casa a cuidar dos filhos, não podiam estudar porque o seu cérebro era menor do que o do homem e por isso não ia aguentar tanta informação... Acabou-se! 

Repararam que o direito ao voto conquistado pelas mulheres foi tudo menos uma torneira que se abriu? Não foi uma coisa que estava vedada e subitamente um decreto fez com que passasse a existir. Como toda a ideia legítima, encontrou sempre uma tremenda resistência, da parte da lei, do governo e dos Homens. E quando finalmente esta atrocidade foi eliminada, não foi como abrir uma cancela e deixar passar as mulheres até às urnas. Esta dívida da lei e do governo foi «paga» a conta-gotas. 

Primeiro autorizaram só as ricas e instruídas, depois só as casadas, depois as solteiras de boa índole mas só para um tipo de voto...  Ou seja: tanto aqui em Portugal, como em qualquer parte do mundo, esta igualdade não foi uma torneira que se abriu e pronto: está feito. Nada disso! Foi a conta-gotas que chegou. Terrível, não? Só de pensar que no que verdadeiramente importa foram precisas décadas para atingir um tratamento não diferencial e igualitário...

Que por vezes, até nos dias de hoje, nas sociedades mais desenvolvidas, falha:


«Mulher no Brasil impedida de votar (2014)»

Emocionam-me estes factos e fico com enorme curiosidade por descobrir mais, ao mesmo tempo que percebo o quanto desconheço tanto. Hoje apetece-me conhecer mais sobre estas mulheres - que não estão tão distantes assim. É uma geração de lutadoras que ainda respira e vive. Devia-se explorar este tema quase até à exaustão. Como povo, se não nos conhecermos e à nossa história, perdemos um pouco a nossa identidade. 

Espreitem aqui este sintético excerto em vídeo dessas histórias de lutadoras portuguesas - infelizmente hoje praticamente desconhecidas.

Ainda vos deixo com este vídeo dos óscares 2015... Além de admirar esta atriz que sempre intuí como uma pessoa muito humana, simples e despretensiosa, além de verdadeira artista, ela chegou ao palco e disse! Em Hollywood fala-se muito de «respeito à diversidade» mas tal como em qualquer parte do mundo - inclusive aqui - o que se diz e o que se faz, muitas vezes são coisas diferentes. Todo o seu discurso abrange o que precisava e vai mais além, é ao mesmo tempo de agradecimento mas também de activismo, simples e inteligente. Afinal, este é o momento em que «o mundo» está de olhos postos naquele evento. Muitos dos agraciados pretendem cunhar com cidadania um momento destes. E ela o faz dentro do limite de tempo, sem excluir nada, de forma brilhante. A reação na plateia também foi clara. Convosco, Patrícia Arquette.


*Primeiro faria a pesquisa para saber se as votações na arábia saudita foram de dedo pintado - pois não me parece terem sido, ainda assim, o livro podia falar não apenas deste país, mas do direito das mulheres muçulmanas ao voto por toda a parte. Iam ler este tipo de livro?